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JULIANA COISSI - DE SÃO PAULO - 05/02/201502h00
Não bastava para Carlos Pereira, 36, ter convencido investidores estrangeiros a criar em Recife, há quatro anos, uma sofisticada clínica de reabilitação, ideal para a filha Clara, 6, com paralisia cerebral. O pai queria poder falar com ela.
Agora, Carlos quer desenvolver um projeto para que a filha, cadeirante, possa andar. "É segredo, ainda, mas é uma ideia fabulosa."
Mas comunicar-se era penoso. Se Clara queria um iogurte, o pai precisava tirar foto do alimento e distribuí-lo em fichas para que ela as apontasse, já que a menina não consegue falar.
O pai negou-se a limitar a filha a uma vida de apontar coisas. Analista de sistemas, deu voz a Clara há três anos, ao criar o Livox, um aplicativo para tablet. O app ganhou na terça (3), em Abu Dhabi, o reconhecimento da ONU, com o prêmio de melhor aplicativo de inclusão social do mundo.
Sigla de "liberdade em voz alta", o Livox é mais do um fichário virtual de fotos. Para quem não tem firmeza nas mãos, caso de Clara, teclar "errado" seria corriqueiro e inviabilizaria o app.
Carlos desenvolveu, então, um algoritmo inteligente. Quando a pessoa com deficiência toca na tela, o algoritmo calcula quantos dedos estão teclando, por quanto tempo, se eles se arrastam ou não, e corrige este toque, de forma a "ler" o comando.
O app traz seções como "eu estou com...", seguido de respostas "fome", "sono".'PRINCESA QUE NÃO FALA'
Pela voz feminina do Livox, Clara, hoje com seis anos, faz mais do que pedir um iogurte. Alfabetizou-se e escreveu pelo app um texto do livro de sua formatura da pré-escola.
Pelo Livox, Carlos soube qual era a princesa preferida da menina, a sereia Ariel.
"E por que, filha?", perguntou. E ela respondeu, via app: "É que a Ariel também não fala". Na história, a sereia perde momentaneamente a voz.
"Quando a levei na Disney, ela arregalou os olhos feliz ao lado da atriz vestida de Ariel, e me disse pelo Livox que realizei um sonho dela. Eu nunca saberia disso sem o app."
A invenção extrapolou Recife. Hoje já são 10 mil usuários. Carlos deu palestras por todo país e propagou a "cria" em viagens para EUA, Inglaterra e Portugal.
Fonte: Folha de São Paulo
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